Atenção: Não existe tratamento precoce contra Covid-19
Enquanto as vacinas não chegam em massa para a população brasileira, os números de casos de Covid-19 continuam crescendo e fazendo vítimas. Em uma tentativa de acalmar a população e se opor às medidas de contenção propostas por especialistas, surgiram pela internet, com o apoio de figuras públicas e autoridades, a ideia de que exista um tratamento precoce contra o vírus.
Ainda que todos gostaríamos que isso fosse verdade, e sabemos que os cientistas estão trabalhando arduamente para encontrar um tratamento, infelizmente é preciso deixar claro: não existe tratamento precoce contra a covid-19.
É preciso tomar cuidado para não cair em fake news. Agências de checagem, assim como especialistas no assunto, em especial a Organização Mundial da Saúde, já alertaram que ainda não foi encontrado um remédio que demonstre eficácia contra o novo coronavírus.
Desde o início da pandemia, diversos remédios foram citados, entre eles a Hidroxicloroquina, a Azitromicina e, mais recentemente, a Ivermectina. O uso sem recomendação médica desses medicamentos, não só não impede o avanço da doença, como pode causar problemas graves no organismo, criando inclusive superbactérias.
Neste artigo, vamos desmentir algumas informações que estão rolando soltas por aí, como a eficácia da hidroxicloroquina, o uso da ivermectina e as recomendações do ministério da saúde sobre o suposto tratamento precoce. Continue com a gente!
Estudos com problemas metodológicos e inconclusivos
Muitos grupos andam fazendo “manifestos” a favor do uso de um kit que eles afirmam ser o tratamento precoce contra o Covid-19. Eles citam sites desconhecidos e estudos inconclusivos como referência.
É o caso, por exemplo, de um estudo publicado pelo site britânico “COPCOV”. Eles propuseram fazer um estudo financiado pela Universidade de Oxford para avaliar a eficácia da hidroxicloroquina, no entanto, até hoje nenhum resultado foi divulgado.
Ainda, no próprio site, é informado que outros dois grandes testes clínicos concluíram a ineficácia do medicamento.
Até hoje, nenhum estudo concluído e de qualidade foi apresentado para sustentar a ideia de um tratamento precoce. Além de estudos inconclusivos, estes grupos ainda divulgam dados alterados e leituras equivocadas de outras pesquisas, como veremos a seguir.
É verdade que a eficácia da Hidroxicloroquina foi comprovada?
Não.
A revista americana “The American Journal of Medicine” publicou em agosto de 2020 um artigo sugerindo a possibilidade de um tratamento a partir de uma combinação de medicamentos. No próprio artigo, porém, é pontuado que, até o momento, toda experiência com medicamentos era meramente ambulatorial (ambiente de laboratório).
Fica claro, durante a leitura do artigo, que não ocorreram ainda estudos clínicos com resultados positivos, capazes de atestar a eficácia da hidroxicloroquina ou qualquer outro medicamento.
Depois da publicação deste estudo, a OMS divulgou outras pesquisas que atestam a ineficácia da hidroxicloroquina. Entre eles o estudo da FDA, agência reguladora norte-americana, que ainda inclui na pesquisa outros medicamentos, como a ivermectina.
É verdade que um estudo australiano demonstrou a eficácia do uso da ivermectina?
Não.
Um estudo australiano que descreve o efeito do uso da ivermectina no SARS-Cov-2 em ambiente de laboratório de fato foi publicado em abril de 2020. No entanto, grupos pró tratamento precoce tiraram as informações de contexto, divulgando leituras errôneas do estudo.
Testes em ambiente de laboratório, ou IN VITRO como também são chamados, fazem parte do estágio inicial de desenvolvimento de medicamentos e não são suficientes para determinar a segurança de uso em humanos.
Mesmo in vitro, para chegar ao resultado esperado, teve de se usar doses altíssimas do medicamento, que não são recomendadas na bula. Ou seja, o corpo humano não suportaria.
O medicamento permanece em testes, inclusive na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Por enquanto, o uso da ivermectina só é indicado para os problemas descritos na bula do medicamento.
O que diz o Ministério da Saúde sobre tratamento precoce
Durante muito tempo o Ministério da Saúde, comandado pelo General Pazuello, indicou, sem qualquer demonstração de eficácia, remédios para o tratamento precoce contra o Covid-19, entre eles, a Ivermectina e a hidroxicloroquina.
Depois de sofrer retaliações de diversos grupos de infectologistas e pesquisadores da área, as informações que estavam disponíveis no site e no aplicativo do Ministério foram tiradas do ar. Hoje o ministro nega ter, algum dia, indicado tratamento precoce.
Em contraponto, a ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, responsável pela fiscalização e aprovação do uso de medicamentos no país, já deixou claro em diversas notas que não existem estudos conclusivos comprovando a eficácia do tratamento, e informando os usos corretos e seguros dos medicamentos.
Quais são os efeitos adversos ao usar esses medicamentos sem necessidade?
O uso de qualquer medicamento sem avaliação médica pode gerar danos sérios ao organismo humano. Todos eles possuem efeitos colaterais e podem, inclusive, piorar alguma condição que o indivíduo já tenha.
A azitromicina, por exemplo, é um antibiótico usado em infecções bacterianas como pneumonia e gonorréia. Ao ser usado de forma indiscriminada, pode acelerar o processo de resistência antimicrobiana criando novas “superbactérias”. No futuro, a própria azitromicina não será capaz de acabar com essas infecções.
Já a hidroxicloroquina, quando tomada de forma indiscriminada, pode causar sérias reações cardiovasculares, como paradas cardíacas. Entre outros efeitos.
Mas um efeito colateral sério que podemos perceber também é a falsa sensação de segurança. Muitas pessoas, com a certeza de que estão protegidas, relaxam as medidas indicadas pelos especialistas e colocam a si mesmas, e outras pessoas, em risco.
A ciência é um campo de descobertas. Talvez amanhã, daqui a um mês ou daqui a um ano, cientistas cheguem a um tratamento preventivo eficaz contra o novo coronavírus. Ninguém é contra o conceito de tratamento precoce, apenas não temos informações o suficiente para vender esta ideia.
Mas enquanto não existe tratamento precoce, existe prevenção. Respeite as medidas de contenção do vírus fazendo o distanciamento social, usando máscara sempre, higienizando as mãos e indo se vacinar quando possível.
Juntos podemos vencer o Coronavírus!
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